quarta-feira, abril 20, 2016

Académicos defendem que deve haver auditoria às contas do Estado

Adriano Nuvunga, António Francisco e Ragendra de Sousa falavam em directo para Stv
É necessário fazer uma auditoria às contas do Estado para se apurar a real dimensão da dívida pública. A conclusão veio num ápice, e é partilhada pelo Director do Centro de Integridade Pública, Adriano Nuvunga, pelos economistas António Francisco e Ragendra de Sousa. Nas suas abordagens, os mesmos avançam ainda que a confiança dos doadores em relação ao país foi derrubada, daí que o futuro da economia do país seja assombroso e incerto.
Mergulhando no cerne da questão, Adriano Nuvunga defende que se deveria chamar o ex-Presidente da República, Armando Guebuza, para esclarecer o destino que foi dado à dívida pública contraída pelo Estado na sua governação, ao mesmo tempo que critica a ausência de instituições fortes para apurar a questão da dívida.
“Nós todos ficamos à espera que o Presidente Nyusi tome uma atitude para resolver este problema, que chame o Presidente Guebuza, que diga para devolver o dinheiro. Mas, numa situação onde as instituições do poder judiciário funcionam da maneira como nós conhecemos, não podemos esperar que se inicie uma acção por esse lado. Seja como for, penso que o Presidente Guebuza não é um Presidente qualquer neste país. É um libertador, um histórico. Penso que ele deve nos estar a ouvir e, amanhã [referindo-se a hoje], pode esclarecer o que se tem a esclarecer. Isso pode ajudar, porque, havendo uma situação mal parada do Governo, ainda que se tenha afastado da vida pública, acredito que o Presidente Guebuza pode aparecer para ajudar a esclarecer porque todos nós precisamos de informação. Isto tudo é para lamentar o facto de não termos instituições que, independentemente do poder público, possa chamar as pessoas para fazer essa acareação”, argumentou Adriano Nuvunga.
Por seu turno, o economista António Francisco avança que a confiança entre Moçambique e seus parceiros de cooperação está em baixo e que será difícil resgatar a mesma.
“Nós, os moçambicanos, estávamos habituados a sermos enganados e a termos que ir pedir informação ao estrangeiro. Agora são os estrangeiros que dizem que já não confiam. Chegamos a um ponto em que o próprio Fundo Monetário Internacional tomou medidas de cortar a cooperação, portanto, já não são apenas ameaças. Penso que daqui para a frente o relacionamento vai ter que mudar. Não sabemos como, mesmo porque ainda não sabemos como é que as outras entidades (Banco Mundial e os doadores) vão reagir. Imagino que vamos fechar um capítulo em que vamos ter de encontrar uma maneira de nos relacionarmos para recuperar a credibilidade. O descrédito está instalado, e, agora, o mais importante é ver como que, institucionalmente, vamos conseguir se livrar disto. Em condições normais, um Governo destes demitia-se. O Ministro das Finanças não tinha qualquer hipótese de conseguir aparecer, mas nós não somo normais. Então a situação tem que ser contornada de uma forma pragmática”, rematou António Francisco.
Quanto a Ragendra de Sousa, na sua intervenção falou de dívidas contraídas para fins duvidosos e para comprar activos abaixo do dinheiro revelado.
“Da EMATUM está claro que quem desenhou o pacote financeiro não estava preocupado com atum. Porquê? Porque o dinheiro não era dele. Se fosse, não o faria… não compararia barcos para deixar parados. O atum era um pretexto, mas nesse pretexto, o que os analistas precisam de descascar é a natureza do projecto. Falo de atum. Pago um barco a 800 e mandam-me um barquito de 200. Aqui, onde está o problema? É no barco ou no desenho do projecto? O problema da dívida e onde estamos tem que ser analisado na óptica do problema da agência”, defendeu de Sousa no programa Linha Aberta da Stv, moderado pelo jornalista Jeremias Langa, ontem à noite.


Fonte: O País – 20.04.2016

1 comentário:

Anónimo disse...

Auditoria só vai aumentar despesas do Estado, consumir o pouco leite que resta lá. Donde virão esses auditores com cabeça e peito para tirarem uma informação fiável? Se mesmo a PGR se meteu na toca, ou anda ocupada com os processos dos que atacam viaturas nas estradas. Quem ainda duvida da existência de interferência política no sistema de justiça do país? O controlo está muito cerrado tal que influencia até nos conteúdos de órgãos de informação privados. Uph! Está mal.

Peço um terreno em Xidenguele e 100 mil dólares, vou calar!

Vicente Nguiliche