sábado, agosto 06, 2016

Moçambique está preso a uma tradição de administração centralizada, afirma historiador

O historiador alemão radicado em Moçambique Gerhard Liesegang defende que o país está refém da tradição de um modelo de governação centralizado, apontando a falta de vontade política como o principal problema nas negociações para a paz. 
"Estamos presos a uma tradição de administração centralizada em Moçambique", disse à Lusa Gerhard Liesegang, considerando que o modelo de administração actual não respeita as novas dinâmicas socais e beneficia a elite no poder.
O pesquisador alemão entende que a causa da crise política em Moçambique está na incapacidade de ceder entre as partes, Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) e alerta para as consequências da intensificação das actuais confrontações militares.
O recente envolvimento de mediadores internacionais nas negociações entre Governo e Renamo, maior partido de oposição, é visto pelo historiador como um "passo promissor", mas, alerta, "se não for criada uma base negocial séria e isenta", o país não encontrará uma solução para o fim de uma crise que já deixou um número desconhecido de mortos.
"Não há negociações possíveis sem cedências", declarou, salientando que este foi o motivo do fracasso das últimas negociações, que tiveram mais de cem rondas mas não apresentaram soluções até serem suspensas devido à retirada da Renamo, que alegou "falta de seriedade" do Governo.
Embora entenda que o país não possui uma estrutura económica capaz de sustentar as autarquias provinciais, proposta da Renamo e entretanto chumbada pela Assembleia da República em 2015, Gerhard Liesegang defende que a ideia do maior partido de oposição em Moçambique abre espaço para uma reflexão sobre a necessidade de descentralização, lembrando que os níveis de insatisfação tendem a crescer.
"A população em algumas zonas já não aceita esta situação", alertou o académico, sustentando que o país já viveu um episódio similar, durante uma guerra civil que causou a morte de mais de um milhão de pessoas.
O historiador, que trabalha em Moçambique desde 1969, reiterou que o país está a desenvolver uma "tendência unilateral", típica de ditaduras de alguns países africanos, considerando a militarização do Estado como uma das principais ameaças para paz.

Fonte: LUSA – 06.08.2016

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